quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um comentário sobre a greve dos professores

                


            Recentemente os professores das universidades federais iniciaram uma mobilização de greve, que incluiu hoje a minha própria faculdade. Já que agora eu estou sem aulas mesmo, tenho um pouco mais de tempo para escrever o que eu penso sobre isto aqui. Não pretendo ficar falando sobre a posição óbvia libertária sobre o assunto (toda greve voluntária é legítima, desde que não inclua piquetes, e não obrigue o patrão a pagar os dias não trabalhados, etc), nem sobre se eu acho que a greve é um bom instrumento para pressionar o governo (greve é muito século XIX, deviam inovar um pouco mais), mas sim sobre o porquê deste tipo de evento ocorrer.
            Não é nenhum exagero afirmar que praticamente toda greve ocorre ou em setores estatais ou em setores com alto nível de corporativismo. O motivo disto me parece um tanto óbvio; quando os salários deixam de ser definidos via um processo de mercado, todas as negociações tornam-se brigas políticas. E brigas políticas não se resolvem jamais de maneira pacífica – sem perdas e lucros, os critérios deixam de ser econômicos e passam a ser apenas quedas de braço de poder. E em processos políticos a única coisa que importa é o poder de um grupo de interesse, de modo que a única saída possível torna-se um enfrentamento de sindicatos com patrões/estado.
            Algo que acho muito curioso e que ilustra perfeitamente o meu argumento é o contínuo uso da palavra “luta” em todas as mobilizações sindicais. A palavra utilizada é precisa – todos os tipos de negociações quando deixam de ser feitas no mercado e passam para um âmbito político deixam de ser uma cooperação e passam a ser uma luta. Ganhos mútuos se transformam apenas em um jogo de soma zero. As greves, portanto, são meras conseqüências do sistema corporativista em que vivemos hoje.
            Os sindicatos são a reação dos professores ao poder do governo em determinar unilateralmente os salários. É claro que os sindicatos não são instituições libertárias antiestado, afinal geralmente estes possuem benefícios políticos que uma associação puramente voluntária não sonharia em possuir. Nem estou aqui defendendo os sindicatos. A questão é que estes possuem dentro da negação do processo de mercado feita pelo corporativismo os incentivos para atuar de maneira coercitiva como os seus patrões.
            A busca por um salário “justo” não é possível. Assim como alguns escolásticos espanhóis já haviam argumentado no século XV, e que a tradição liberal levou em frente, não existe um preço “justo”, e salários não são nada mais do que o preço do trabalho. Somente atos da ação humana propositada podem ser considerados justos ou não, e preços são frutos da ação humana não propositada, portanto não existe “justiça” nos preços.
            Com a impossibilidade de definir um salário objetivamente justo, as brigas entre patrões e empregados tornam-se intermináveis e não podem possuir um lado vencedor. O que deve ser defendido é a troca deste paradigma de conflitos pela definição dos salários pelo mercado livre. Controle de preços pelo governo sempre causam problemas (afinal não podemos possuir todas as informações necessárias para definir qual o preço “justo”) e o mesmo vale para salários.
            E com a existência de universidades controladas pelo poder coercitivo do estado, não pode existir um mercado verdadeiramente livre para professores. A bandeira a ser defendida não é a renovação do ciclo de conflito através da bandeira de “10% do PIB para a educação pública”. A bandeira que deve ser defendida é a de “0% do PIB para a educação pública”, e melhor ainda “0% de estado envolvido na educação”. As universidades públicas não precisam de mais investimentos do governo; elas precisam ser devolvidas aos seus donos, que são os professores e os funcionários que trabalham nela. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O balão da política monetária

No ano passado tive a oportunidade de visitar New York, e uma das exposições que fui visitar foi a "Drachmas, Doubloons, and Dollars: The History of Money", da American Numismatic Society (afinal, quem não acha isso interessante?). Uma exposição fantástica que eu recomendo bastante (http://www.numismatics.org/Exhibits/DrachmasDoubloonsDollars), mas aqui o foco não é exatamente este. A questão é que a exposição fica dentro do Federal Reserve de NY, e, depois de conhecer diversas moedas históricas, entrei em uma sala que aparentemente servia para explicar o funcionamento do Fed para crianças de algumas escolas que deveriam visitar o museu.

Achei fantástica uma das instalações, que consistia em um jogo onde a criança representava o Fed, enquanto um balão representava toda a economia americana, com vários bonequinhos sorrindo dentro da cesta - que provavelmente representam os americanos, apesar de não ter certeza se eles realmente deveriam estar sorrindo. A proposta do jogo era a seguinte - o balão da economia estava em um ambiente instável, e ficava subindo e descendo autonomamente; o papel do jogador era controlar a altura do balão, usando a taxa de juros como instrumento. Ou seja, quando havia uma grande inflação e aquecimento da economia, o balão começava a subir e o jogador deveria rapidamente aumentar a taxa de juros - se o balão começasse a descer muito, isso representava uma deflação e uma desaceleração da economia que deveria ser combatida logo pela redução da taxa de juros.

É claro que essa é apenas uma alegoria para todos os complexos modelos de política monetária que o Fed e os bancos centrais usam, entretanto a idéia central é exatamente essa. Os planejadores acreditam realmente que a economia é um "balão instável" que deve ser sabiamente controlado graças a um suposto conhecimento privilegiado possuído por estes. O que achei fantástico e engraçado é que o próprio Federal Reserve é réu confesso da sua própria pretensão, e é exatamente esta posição de superioridade que é passada para as crianças que visitam o banco. Não é espantoso que hoje praticamente nenhum leigo consiga imaginar um mundo sem o governo tomando conta da moeda.

As questões relevantes que deveriam ser perguntadas (e tomara que algumas crianças que viram o joguinho tenham se perguntado sobre isso) são: Como saber exatamente se o balão está subindo ou descendo? E se a subida do balão for somente uma ilusão, como aquela quando pensamos que o nosso metrô está se movendo quando na verdade é o trem vizinho que se move? Como saber se a instabilidade do balão é realmente decorrente de ventos e instabilidade externa, ou se é só o homem controlando o fogo que não faz nenhuma idéia do que está fazendo? Pode alguém que está dentro da própria cesta do balão ter uma visão externa da trajetória deste superior aos outros?

Ou ainda a melhor pergunta a ser feita: Existe, de fato, algum balão?