quarta-feira, 2 de maio de 2012

O balão da política monetária

No ano passado tive a oportunidade de visitar New York, e uma das exposições que fui visitar foi a "Drachmas, Doubloons, and Dollars: The History of Money", da American Numismatic Society (afinal, quem não acha isso interessante?). Uma exposição fantástica que eu recomendo bastante (http://www.numismatics.org/Exhibits/DrachmasDoubloonsDollars), mas aqui o foco não é exatamente este. A questão é que a exposição fica dentro do Federal Reserve de NY, e, depois de conhecer diversas moedas históricas, entrei em uma sala que aparentemente servia para explicar o funcionamento do Fed para crianças de algumas escolas que deveriam visitar o museu.

Achei fantástica uma das instalações, que consistia em um jogo onde a criança representava o Fed, enquanto um balão representava toda a economia americana, com vários bonequinhos sorrindo dentro da cesta - que provavelmente representam os americanos, apesar de não ter certeza se eles realmente deveriam estar sorrindo. A proposta do jogo era a seguinte - o balão da economia estava em um ambiente instável, e ficava subindo e descendo autonomamente; o papel do jogador era controlar a altura do balão, usando a taxa de juros como instrumento. Ou seja, quando havia uma grande inflação e aquecimento da economia, o balão começava a subir e o jogador deveria rapidamente aumentar a taxa de juros - se o balão começasse a descer muito, isso representava uma deflação e uma desaceleração da economia que deveria ser combatida logo pela redução da taxa de juros.

É claro que essa é apenas uma alegoria para todos os complexos modelos de política monetária que o Fed e os bancos centrais usam, entretanto a idéia central é exatamente essa. Os planejadores acreditam realmente que a economia é um "balão instável" que deve ser sabiamente controlado graças a um suposto conhecimento privilegiado possuído por estes. O que achei fantástico e engraçado é que o próprio Federal Reserve é réu confesso da sua própria pretensão, e é exatamente esta posição de superioridade que é passada para as crianças que visitam o banco. Não é espantoso que hoje praticamente nenhum leigo consiga imaginar um mundo sem o governo tomando conta da moeda.

As questões relevantes que deveriam ser perguntadas (e tomara que algumas crianças que viram o joguinho tenham se perguntado sobre isso) são: Como saber exatamente se o balão está subindo ou descendo? E se a subida do balão for somente uma ilusão, como aquela quando pensamos que o nosso metrô está se movendo quando na verdade é o trem vizinho que se move? Como saber se a instabilidade do balão é realmente decorrente de ventos e instabilidade externa, ou se é só o homem controlando o fogo que não faz nenhuma idéia do que está fazendo? Pode alguém que está dentro da própria cesta do balão ter uma visão externa da trajetória deste superior aos outros?

Ou ainda a melhor pergunta a ser feita: Existe, de fato, algum balão?


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