Nesta terça-feira, dia 31 de julho de 2012, são comemorados
os 100 anos do nascimento do economista Milton Friedman. Friedman foi o
vencedor do prêmio Nobel de economia de 1976, e um dos economistas mais
importantes do século XX. Dado o nome deste blog, que evidencia a minha
preferência pela escola austríaca e sua visão sobre o mercado como um processo
e um espaço social, e a economia caracterizada pela sua heterogeneidade, e
contra o equilíbrio geral e a macroeconomia, é plausível supor que eu não
concorde muito com as idéias econômicas de Friedman, o que é quase verdade.
Mesmo assim, Milton Friedman ainda é o meu economista favorito, aquele que eu
utilizo como modelo do que eu gostaria de ser, e teve um papel muito importante
na minha vida.
Conheci o trabalho de Friedman em 2009, quando ele infelizmente já havia
nos deixado. Neste ano eu passava por um período complicado, quando ainda
estava cursando engenharia, entretanto certo de que não queria ser um
engenheiro. Apesar de estar certo que queria abandonar o curso, eu não
conseguia enxergar nenhuma alternativa para o meu futuro. Buscando encontrar
algo que eu realmente gostasse, freqüentei diversos cursos neste período, em
áreas variadas. Um deles foi um debate sobre a crise que havia ocorrido há
pouco, onde foi mencionada a explicação monetarista, que entre as explicações
apresentadas no momento me pareceu a mais plausível.
Com isso, busquei algum livro de Milton Friedman para ler, e
encontrei Capitalismo e Liberdade em um sebo. Este é o livro que mudou a minha
vida, e que sempre que alguém me pede alguma indicação de leitura sobre
economia eu o indico. Capitalismo e Liberdade é um livro capaz de lhe persuadir
a cada página, e foi exatamente isto que aconteceu comigo. Antes de ler o
livro, eu era apenas um leigo em economia, e na esquerda do espectro político.
Após o livro, eu já era um liberal. Friedman conseguiu me persuadir de suas
idéias não obstante toda a resistência que eu tinha a elas. Lembro-me como eu
me revoltava toda vez que eu começava a ler um argumento, a favor do fim do
salário mínimo, ou a favor do fim da educação pública, e tantos outros argumentos
chocantes para um leigo de esquerda, e como mesmo assim logo ao fim do capítulo
eu estava totalmente convencido de que Friedman estava certo.
Capitalismo e Liberdade não me transformou apenas em um
liberal, mas também em um economista. Ali encontrei imediatamente o que eu
queria ser. Depois de ler o livro, eu não tinha dúvidas de que eu deveria estar
em um curso de economia, e desde que me transferi para o instituto de economia
em nenhum momento esta dúvida surgiu. Se antes de ler Capitalismo e Liberdade
nenhum curso da universidade me agradava, hoje eu pretendo continuar na
universidade como pesquisador e professor, quem sabe até os 94 anos como
Friedman.
A partir deste livro, busquei o Instituto Liberal no Rio, e
foi lá onde encontrei as idéias de Mises e Hayek que acabei preferindo ao
monetarismo de Friedman. Portanto, mesmo o fato de eu me considerar hoje um
“economista austríaco” é graças a Milton Friedman. Assim que eu descobri Mises
e Hayek, descartei completamente as idéias de Friedman, mas com a progressão
dos meus estudos acabei percebendo que aqueles argumentos que eu lia
anteriormente eram muito mais sofisticados do que eu poderia entender, e com
certeza são ainda mais sofisticados do que eu posso compreender agora. Hoje já
não descarto completamente as idéias de Milton Friedman, e diria até que
prefiro suas teorias monetárias a de alguns austríacos, como Rothbard e autores que defendem 100% de reservas de ouro. Mas a lição mais importante que
aprendi neste caso foi a da necessidade de manter sempre uma humildade quanto a
grandes autores como Friedman, pois os argumentos são sempre mais sofisticados
do que se possa imaginar.
A principal qualidade de Milton Friedman é sua capacidade de
retórica, e é onde eu mais me espelho nele – costumo dizer que estaria
realizado se algum dia obtivesse 10% de sua capacidade retórica. Ver ou ler
Friedman argumentar é sempre fantástico, e é impressionante como ele é capaz de
convencer pessoas. Ele jamais subestima o outro lado, não os trata como pessoas
estúpidas, nem releva os argumentos contrários, repetindo sempre a mesma coisa.
Ele se preocupa realmente em estabelecer uma conversa, um canal de troca de
idéias, onde ele possa mudar a pessoa do outro lado, e onde ele possa mudar ao
ouvir o outro lado também. Tampouco ele tem medo de enfrentar audiências hostis
ao seu pensamento, algo que ele fez diversas vezes e pode ser visto em diversos
vídeos na internet. E ele jamais perde o bom humor e a boa vontade ao responder
todas as perguntas e críticas – por mais descabidas que elas sejam. E dado o
profundo respeito que Friedman sempre dispensou aos seus adversários, poucas
coisas me deixam mais irritado do que os constantes ad hominem descabidos
contra Friedman, como os feitos por Naomi Klein mais recentemente.
Friedman é um modelo para mim, porque não só ele é um dos economistas
mais inteligentes que já existiram, e um dos poucos que pode dizer que
revolucionou a profissão, mas também é um dos intelectuais mais claros e
concisos, além de um dos mais humildes e tolerantes. Mais que isso, Milton Friedman me deu
uma identidade quando eu mais precisava, e toda a carreira que eu pretendo
construir é devida a ele. Não existe nenhuma maneira de agradecer alguém por
tudo isso, e um post em um blog definitivamente não é o suficiente. O que eu
faço para retribuir é tentar ser um dos que carregam a tocha da liberdade na
próxima volta. Desta maneira, sinto pelo menos que o livro que mudou a minha vida também
foi dedicado para mim.
Belo artigo. Milton também foi responsável por minha entrada no Liberalismo, já acreditava no poder do mercado e com ele isso ficou mais claro. Ele realmente sabia trocar em miúdos. Também me inspirou nos debates no tempo da Federal. Numa cadeira de economia que tive no curso de Engenharia(que larguei pra estudas finanças)meu professor, que era um marxista, admitia que o cara era bom e que tinha se atualizado pescando algumas coisas de dr.Friedman.
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