quarta-feira, 6 de junho de 2012

Wikipedia; ou porque a ordem espontânea é superior ao ensino público gratuito de qualidade etc

Ordem espontânea - o tipo de ordem que emerge pela ação humana, mas não pelo desígnio humano - é um conceito abstrato e que nem sempre é fácil de ser visualizado. Felizmente, na era da internet, existem diversos exemplos de ordens espontâneas (ou emergentes) que brotam na web. Um bom exemplo são as redes sociais, como o Facebook. A blogosfera também é uma grande ordem espontânea. Todos os memes, que são bastante famosos ultimamente, são outros excelentes exemplos. Alguém poderia mesmo dizer que a internet por inteiro é uma grande ordem espontânea.

Acredito que o meu exemplo favorito de uma ordem espontânea muito bem sucedida é a Wikipedia. Se você quiser procurar uma palavra ou frase obscura, obter um rápido resumo sobre uma figura histórica, ou conhecer algo mais sobre um conceito político ou científico obscuro, graças a Wikipedia a ajuda está a apenas um clique do mouse. E tudo isso graças a uma horda de desconhecidos - através de diversas ações humanas propositadas, mas que tiveram um resultado final que não foi planejado por nenhuma mente ou grupo de mentes específico.

A própria história da Wikipédia é uma mostra de como a ordem espontânea pode ser superior a ordem planejada, mesmo que o planejamento seja feito por um grupo de pessoas altamente qualificadas. Segundo o artigo sobre a Wikipedia no próprio site, "A Wikipedia começou como um projeto complementar a Nupedia, um projeto de enciclopédia online gratuita de língua inglesa cujos artigos eram escritos por especialistas e revistos em um processo formal". Você já tinha ouvido falar da Nupedia? Eu também não. Nem sempre um grupo de especialistas e um processo formal são melhores do que um caos de contribuições anônimas.

É claro que, pelo seu processo de produção anárquico, é possível encontrar diversos erros em certos artigos da Wikipedia - assim como diversas empresas erram e quebram todos os dias. Isto não é o suficiente para, assim como algumas pessoas costumam fazer - rejeitar todo o trabalho feito pelo site. É claro que a Wikipedia não é nenhuma bibliografia altamente confiável a ponto de ser utilizada como referência em um artigo acadêmico, entretanto ela ainda é extremamente valiosa, mesmo para pesquisas acadêmicas, nem que seja como forma de fazer uma pequena introdução de um conceito desconhecido antes de uma pesquisa mais profunda, ou como fornecedora de palavras chave úteis para a pesquisa. Sem contar que - assim como o mercado - existem incentivos para que os erros sejam eliminados, dado que qualquer um ao detectar um erro pode corrigi-lo.

Um dos fundadores da Wikipedia, Jimmy Wales, estava ciente do poder de uma ordem espontânea como forma de coordenação de um conhecimento disperso. Wales, um libertário e admirador confesso do trabalho de Ayn Rand, afirmou que a sua inspiração veio do artigo do economista austríaco Friedrich Hayek: O uso do conhecimento na sociedade (artigo que pode ser lido em  http://www.ordemlivre.org/2008/09/o-uso-do-conhecimento-na-sociedade/ ).

A bandeira que vem sendo defendida hoje como forma de salvar a educação é a de "10% do PIB para a educação gratuita, de qualidade, universal, e diversos outras qualificações (já vi até "laica", como se já não fosse). A questão é que não é um aumento de gastos que é capaz de melhorar a educação. Não tenho medo em dizer que a Wikipedia fez muito mais pela educação brasileira do que um aumento desses gastos faria. O canal de evolução de um serviço é a inovação, e a Wikipedia é o melhor exemplo atual de uma grande inovação trazendo excelentes benefícios e melhorias para um serviço educacional. Por definição, não é possível planejar uma inovação - afinal se você sabia sobre ela previamente, logo não é inovação nenhuma. Uma evolução através do planejamento estatal não é o desejável (se é que é possível). O necessário é diminuir as barreiras (por exemplo, liberando o homeschooling), para que as próprias pessoas possam descobrir melhores maneiras de como se educarem.

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